Ficção Científica brasileira. Elitizar ou popularizar?

Recentemente provoquei uma intensa discussão a respeito do Fandom (mais uma vez), sobre a sua importância intrínseca para o gênero. Muitas vozes se posicionaram, houve debates, sugestões, posicionamentos. Rendeu mais de 200 comentários. Defendi uma tentativa de escape desse Fandom menor e barulhento para o Fandom maior e silencioso. Aquele que habita a periferia e é muito mais amplo do que essa parcela aglutinada que move nossos eventos, que interage nas redes sociais e que adquire parcamente as obras que são produzidas dentro de nosso país.

O que me chamou mais a atenção nessa discussão foi uma voz solitária (nem por isso dissonante no conjunto de outras vozes, provavelmente), que prega a elitização disfarçada do gênero. Alegou o necessário isolamento da FC para evitar com isso uma popularização prejudicial.

Eu vim me perguntando desde então se nos cabe exercer sobre nós mesmos mecanismos reguladores movidos pelo preconceito. Se devemos criar uma espécie de reserva de mercado, produzindo obras de um gênero privilegiado para leitores igualmente privilegiados. Se devemos aplicar sobre nosso gênero a mesma pecha que a literatura realista aplica sobre toda forma de expressão escrita que escapa do que é aceito pelo seu cânone.

É possível que nós mesmos nos isolemos em compartimentos diferentes rotulando-nos de acordo com o tipo de abordagem ou com o tipo de público que buscamos?

É válido elitizar a nossa literatura, a nossa FC, ao ponto de criarmos rupturas dentro de nosso próprio establishment? Vamos etiquetar determinados autores de gênero como maiores e menores? Determinadas obras de gênero como maiores ou menores (admitindo-se que o gênero é autossuficiente, é a ele que julgamos em primeira instância. Mas sem deixar de compreender e aceitar que existem obras melhores e piores, mais elaboradas e menos elaboradas)?

A busca pelo público de fora, aquela imensa população silenciosa que adquire FC seria um reflexo de fraqueza? Uma abertura indesejada? Seria o público externo incapaz de raciocinar, de especular, de extrapolar? Deveríamos nos recolher ao gueto, habitar o submundo e falar apenas uma só língua, mesmo com o imenso risco de ficarmos repetindo sempre a mesma coisa para um público que quer ouvir sempre a mesma coisa?

Defendi a popularização da FC com o intuito de podermos atingir um público maior. Defendi simplificar a linguagem e os símbolos desse gênero para nos tornarmos mais compreensíveis. Defendi uma abertura de mercado que poderá nos beneficiar, que poderá nos levar a fronteiras antes não exploradas. Defendi a FC humanista (em contrapartida à hard, mas nem por isso menos ou mais importante que ela) como a que dialoga mais facilmente com esse público. Defendi uma evolução temática lenta e gradual para formarmos novos leitores.

O que você pensa disso?

Elitizar ou popularizar? Buscar novos leitores ou nos conformar com os que já temos?

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25 Respostas to “Ficção Científica brasileira. Elitizar ou popularizar?”

  1. Horacio Corral Says:

    Novamente. Parabéns pelo artigo e pelo blog.

    Eu enxergo, essencialmente, duas possibilidades válidas, duas hipotéses, de como a FC pode crescer em público e qualidade. Uma viável e comercial e outra mais artística e difícil.

    A hipotése viável e comercial.
    De maneira simples e direta, ‘amaciar’ e preparar a Ficção Científica para um público mais diversificado, tanto em termos de idade quanto de perfil cultural. Histórias de aventura e ação com enredos cheios de reviravoltas, entretanto, com pouca tecnologia e invenções. É o caso aqui de ‘lugar-comum’ como pistola laser, viagens no tempo, naves espaciais, robôs e afins. Temos, em alguma medida, autores que produzem este tipo de obra no Brasil hoje.

    A hipotése artística e difícil.
    Podemos exemplificar aqui três autores, William Blake, Charles Bukowski e Jorge Luis Borges. Todos foram DISRUPTORES em sua época. Dividiram opinião. Geraram respostas emocionais com suas obras e idéias. Criaram obras com propostas originais tanto em termos de idéias e conceitos quanto em termos narrativos. Foram inicialmente marginalizados e eram pessoas de caráter e temperamento forte. Considerados loucos por alguns dos seus contemporaneos. O que eu quero dizer com isto é, produzir arte exige ir além – de verdade. Este tipo de autor, ou melhor, artista, é mais raro e requer uma maturidade artística e um conhecimento incomum de sua área. São raros mesmo na literatura mainstream. Como eu vivo dizendo, mais do que tudo esses, artistas são pessoais, são íntimos. Você vê a alma do artista na obra. Vê o que ele gosta e o que o aterroriza, o que ele é ama e o que o repugna. Mas é necessária uma imensa coragem, e habilidade, para chegar nesse tipo de obra. Embora sejam mais raros, são eles que tem a capacidade de captar, e apaixonar, ou aprisionar, multidões com suas idéias, revelações e, em muitos casos, paradigmas.

    Se há autores desse calibre no Brasil produzindo hoje, talvez seja uma pergunta melhor respondida pelo Roberto Causo, mas eu, pessoalmente, não vi nenhum ainda.

    Há muito mais do que uma separação monocromática, como a que eu proponho aqui, mas a minha percepção do tema me indica que esses são os dois grandes grupos. Os dois tipos de autores são válidos, importantes e necessários. Por mais que não veja com bons olhos a imensa quantidade de publicações que há hoje (que confirmam e corroboram com imensa veracidade a Lei de Sturgeon), é o caminho para encontrar bons autores, tanto os primeiros quanto os segundos.

  2. Mariana Albuquerque Says:

    Oi,

    A princípio, sou completamente a favor de popularizar a FC. Enquanto ela for um clube de poucos, ela nunca vai sair do chão. Hoje em dia ela está meio que à altura de uma mesa (e muito desse mérito dela ter saído do chão é de autores estrangeiros e filmes que popularizaram o ato de ler), mas que seria bom ver esse foguete decolar seria.

    Mas sou CONTRA se “popularizar” escrevendo de forma mais “burra”. A idéia da FC, a mensagem maior dela, é ensinar que a ciência pode ser maravilhosa. Tirar a tecnologia e a ciência, escrever miudinho para os “leitores” entenderem não é solução,é jogar fora a água de banho, a tina, o bebê, a mãe e a casa.

    Além do que, nem sempre isso ganha leitores. Falando de mim mesma como leitora, um ótimo jeito de me fazer desistir de comprar qualquer livro de um autor é ler um trabalho dele que trate o leitor como um retardado. Tem autor que eu li um livro assim (não vou citar quem é, mas posso talvez oferecer a desculpa que era um dos primeiros livros do sujeito) e que hoje em dia eu pulo até contos que ele tenha publicado em antologias que eu tenha comprado pois eram escritas por outros autores bons também.

    É possível escrever tratando o leitor com respeito e ser entendido. Se acha que a maioria dos leitores não vai conseguir entender a tecnologia usada, use uma ferramenta maravilhosa chamada exposição, e explique. Coloque a informação no próprio texto, e não, não precisa ser na frase seguinte à tecnologia aparecer. Via de regra, você não vai precisar gastar mais do que três linhas com isso (se não for o intuito gastar mais, mas você não conseguir resumir, estude um pouco mais a tecnologia em questão). Mas use a ciência. Use a tecnologia. É essa a idéia maior da FC, esse o motivo pelo qual um monte de cientistas norte-americanos escrevem isso. A FC ensina ciência de uma forma fácil, instiga a vontade de se aprender ciência. Escrever sem ciência é matar a FC.

    • Tibor Moricz Says:

      Popularizar a literatura não é o mesmo que burrificá-la. Precisamos fugir desse lugar comum. Escrever para o povão não exige que deixemos de lado o requinte do gênero nem sua estrutura básica, mas dialogar numa linguagem compreensível. E fazer isso aumentando gradativamente a complexidade até o ponto de termos formado novos leitores. Isso é um processo demorado, mas válido.
      Se a FC popularizada precisar deixar de lado a sua essência, deixará de ser FC e todo o meu argumento não terá valia.

      • Alvaro Domingues (Pai Nerd) Says:

        Concordo com ambos, popularizar sem burrificar. Simplificar conceitos não é esculhambar com eles, mas torná-los mais compreensíveis. Temos que aprender com os bons escritores de divulgação científica. Por outro lado não podemos esquecer que estamos contando uma história, senão viramos roteirista do canal Discovery. E também não podemos ter medo de ousar com medo de que o leitor não nos entenda. Um bom escritor deverá saber lidar com todas estas variáveis.

  3. Antonio Luiz Says:

    Eu gostaria de entender melhor o que se quer dizer com esse “elitismo”. Se a proposta é não deixar de lado o requinte do gênero, mas “dialogar numa linguagem compreensível”, então se trata simplesmente de melhorar o estilo. Se alguém escreve de maneira mais complicada do que o necessário para criar o clima que deseja e expor as minúcias de sua trama, então escreve mal.

    Se a proposta, por outro lado, é esquecer a ficção científica “hard” e trabalhar numa mais humanista ou “soft”, o assunto é muito diferente. Mas duvido que esse realmente seja um problema. E de qualquer forma me parece que também é chover no molhado: pouquíssima gente está tentando fazer FC hard no Brasil.

  4. João Beraldo Says:

    o que torna uma obra popular não é ‘emburrecê-la’. Essa forma (diga-se de passagem ofensiva) de tratar as coisas é o que acaba por gerar mais barreiras entre a ficção científica e o leitor padrão. O mesmo tem acontecido com jogos de computador, o ‘dumbdown’ para popularizar o jogo, usando o mesmo tipo de terminologia, e hoje em dia donas de casa e senhoras de 80 anos jogam World of Warcraft em guildas famosas.
    O primeiro grande ponto que sempre vi como barreira é o uso de palavras não populares. Ia dizer rebuscadas, mas acho que isso pode ter o mesmo efeito negativo de ‘emburrecer’.
    Existe um pré-conceito de que Ficção Científica é “complicado de entender”, possivelmente pelo simples fato do gênero remeter à ciência, aquela coisa complicada da escola. Se o sujeito que venceu a barreira e pegou o livro para dar uma olheada dá de cara com uma sequência de palavras que não fazem parte do seu dia a dia, ele para, fecha o livro e parte para outra, certo de que “esse negócio de ciência é complicado mesmo”.
    Talvez pelo mesmo motivo a space opera no geral seja mais aceito do que o hard. Quando você foca na aventura e nos personagens e não na ciência por trás dela, o material acaba se tornando mais aceitável por quem vê ciência como uma coisa complicada que “não é pra mim”.
    Minha sogra foi diarista quase toda a vida dela. Ela não chegou na metade do 2o grau. Mas sabe o que ela adorava ver quando era mais nova? Jornada nas Estrelas. Tanto que quando lancei meu primeiro livro, ela começou a ler, empolgada (o primeiro livro em anos). Não foi muito pra frente, confesso. Mas também eu não tinha essa cabeça ‘inclusiva’ há 8 anos atrás.
    Nesses últimos meses tenho andado muito de metrô e ônibus em São Paulo e tenho visto muita gente lendo do caminho de ida e volta do trabalho. Já vi alguns Jogos Vorazes por aqui e ali. É FC? É. Mas tem um foco muito mais familiar, muito mais humano. Será que a questão não é a familiaridade? Se nossas FCs fossem mais familiares, elas seriam mais aceitas?
    Lembrei do que meu tio disse quando lancei o Véu da Verdade. “Acho que venderia mais se ao invés de alienígenas e viagens espaciais, você fizesse algo brasileiro, na época atual ou no futuro próximo, mais perto da realidade de quem lê.” Sinceramente, ele estava certo. O livro do Flávio Medeiros, Quintessência, é bem isso. Eu lembro que disse pra mim mesmo “pq eu não pensei nisso?” quando li o livro.
    E será que não é isso que torna a fantasia tão vendável? A familiaridade com o que se lê?
    Não acho que devemos abolir hard scifi ou escrever livros com enredos rasos. Mas precisamos reduzir ao máximo as barreiras entre o novo leitor e nossas obras.

    • Horacio Corral Says:

      Concordo plenamente contigo, Beraldo. E diria, que o motivo da ‘familiriadade’ fez com que muitos autores de FC migrassem para o mainstream e a fantasia.

    • Alvaro Domingues (Pai Nerd) Says:

      Seu tio tem razão. Ao ler o livro de FC a gente quer poder encontrar os alienígenas na esquina perto de casa. Não quero saber de um futuro utópico ou distópico que não faz nenhum sentido para mim. Talvez o caminho para quem escreve é lembrar de como ingressou no gênero.

  5. Roberto Belli Says:

    Parabéns Tibor pela discussão. Isso nos faz pensar realmente! Minha opinião é que não vejo como elitizar a ficção científica, uma vez que ela já nasceu popular com Júlio Verne e H.G.Wells. Tornou-se ainda mais popular na época das revistas pulp, com Isaac Asimov, Arthur C. Clarke, Robert Heinlein etc. Acho que devemos antes de tudo aprender com esses autores e escrever com o coração, como manda nosso grande Roberto de Souza Causo. Se a mensagem que queremos passar envolve FC Hard, não adianta querer “baixar o nível” e produzir uma Soft só para conquistar um público maior. É bobagem pensar assim, mesmo porque nós, escritores, só podemos escolher a linguagem que vamos dialogar com o leitor, mas nunca podemos escolher qual leitor vamos atingir (evidentemente que não estou falando de faixa etária, público alvo etc., isso é outra coisa), pois é o leitor que vai nos escolher se fizermos tudo certinho com relação à divulgação etc. Abraços.

  6. Saint-Clair Stockler Says:

    Sei que é uma questão lateral, mas que também tem a ver: só não consigo entender por que no Brasil a FC escrita parece atrair tão poucos leitores enquanto que nos EUA ela é uma potência. Será uma questão de instrução escolar? Será que é porque os EUA são um país eminentemente tecnológico enquanto que o Brasil é fortemente rural? Não sei, não entendo, queria muito entender…

    • Zeugmar Zeugma Says:

      Longe de querer ser conclusivo, mas… talvez seja exatamente isto.

      O livro “Homens do Amanhã”, de Gerald Jones, não é apenas a história da indústria dos quadrinhos nos EUA (especialmente Super-Heróis), mas também procura imaginar a história dos geeks. Talvez seja interessante dar uma olhada…

      Difícil de imaginar o que seria um geek no faroeste… ou na Idade Média. É um fenômeno urbano e está ligado a disseminação tecnológica.

      Nos EUA, um dos homens mais marcantes da virada do século XIX para o XX foi Thomas Edison: inventor, cientista, empresário. De certa forma, ele se tornou uma “vida-objetivo” para as gerações seguintes. O Professor Pardal é o arquétipo de inventor-empreendedor deste “sonho americano”…

      No Brasil, a figura histórica que “talvez” pudesse ter valor equivalente se suicidou: Santos-Dumont.

    • Ivo Heinz Says:

      Como é que é???? Discordo

      De acordo com o Censo 2010, 84,4% da população brasileira vive em cidades.
      E não, não dá pra falar de música sertaneja, lá nos EUA o Country Music também é fortíssimo, pra muitos ianques Nashville é a Terra Prometida.

      Sei não Saint, mas pra mim é falta de educação básica, o sujeito não se acostuma a ler, não acha educação algo importante, sente uma distância MUITO grande entre o que sabe e o que vive e o que leria num livro de FC, pro povão, FC são efeitos especiais no cinema, e olhe lá.

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  8. Davi M Gonzales Says:

    Mesmo conhecendo quase nada do mercado editorial, vou opinar: não creio que essa nova geração de leitores se assuste diante de termos tecnológicos. Já nasceram imersos em mundo que a maioria de nós precisou descobrir aos poucos. Semanas atrás fui supreendido pelo convite de uma renomada editora, interessada em publicar trechos de um conto de FC de minha autoria, captado por seus editores em uma coletânea da qual participei. Essa editora publica exclusivamente livros didáticos e o texto será objeto de estudo para ensino de língua portuguesa a crianças de 6ª série do ensino fundamental. A ciência, embora complicada, desperta o interesse. Já o hermetismo, que atinge e satisfaz meia dúzia de iluminados, esse podemos deixar para os poetas.

  9. Fco Portela Says:

    Devemos sempre lembrar da forte concorrência que a literatura sofre com outras formas de entretenimento. Hoje eu leio menos, porque tenho mais opções de passatempo.

  10. renatogcunha Says:

    Na minha opinião, pegando uma carona no que o Stokler disse, é que a ficção científica “brasileira” não é encarada sériamente pelo leitor, como o seriam americanos e europeus. Não somos um país “científico” como os EUA ou como Alemanha e Inglaterra. Nunca tivemos um programa espacial sério (a grande mola da FC) e nenhuma investigação científica que impacte a imaginação do público. Por isso, somos sim um país ainda com mentalidade rural, onde a ciência não é para nós. Escreva uma estória humorística sobre a ciência nacional, recheada de ironia e esculhambação, e verá o enorme sucesso que fará. É a síndrome do “Bento Carneiro, o vampiro brasileiro”.

    Porém, uma nova classe de “geeks” nacionais está crescendo assustadoramente nas grandes capitais, motivada principalmente pelo interesse nos computadores e nos jogos eletrônicos, consumindo “gadgets” e bugigangas eletrônicas com grande voracidade. Para mim, essa nova massa deve ser encarada como publico alvo para a popularização dessa forma de literatura, pois já tem o interesse no assunto e imaginação.

  11. José Anilto Says:

    Acredito que há muito espaço para a FC no Brasil, em todas suas facetas. O grande problema é a divulgação e comercialização. As editoras brasileiras em sua grande maioria estão preocupadas com as vendas, e fica mais fácil traduzir livros consagrados de autores estrangeiros do que publicar autores nacionais. Os autores nacionais, por sua vez, ficam desmotivados por verem suas obras na fila de espera de publicação, e quando publicadas “por conta e risco”, ficam desmotivados pela baixa venda. Eu, quando jovem (faz muiiiito tempo) vivia tentando encontrar nas bibliotecas os livros de ficção, mas eram raros. Depois, acompanhei a série Perry Rodhan por muitos anos, e sofri uma tremenda decepção quando a ediouro parou de publicá-la. Recentemente outra editora tentou dar continuidade a série, porém também parou pelo caminho. Poucos leitores não cobrem custos. Mas tem um grupo teimoso que banca a tradução e distribui aos associados, e assim a série vai caminhando.
    Quanto à linguagem, acredito que há gosto para tudo, exceto para os que tentam ser extremamente rebuscados nos termos (isso acontece também com outros gêneros,onde o autor acha que escrever com palavras raras e unusuais é sinal de cultura). Claro, sempre serão melhor aceitos aqueles que escrevem com linguagem mais leve, mais corrida para o leitor, principalmente o leitor jovem, que é onde o gênero pode ter maior penetração.
    E também poucos compartilham seus textos em sites. Muitos preferem engavetar suas obras do que colocá-las a um custo baixo ou mesmo gratuitamente aos leitores.
    Talvez fosse melhor ceder uma ou duas obras para alavancar seu conceito ficcional e preparar um público para uma obra paga, ou mesmo para descobrir a penetrabilidade dos seus escritos.
    A FC precisa de diversidade, de novas idéias, senão cai no estrangeirismo, que por sua vez baseia-se no comercialismo e nas obras pré-configuradas. Por isso o conceito do raio laser sempre aparece em quase todas as obras. Não é uma criação, é uma cópia de conceitos já estabelecidos. Sem criatividade científica.

  12. Arthur Duarte Says:

    Bem, acompanhando a discussão em outros meios [ a lista do CLFC e o grupo no Facebook], vejo uma tendência a repugnar a “popularização”. Será que tornar algo popular é ruim? Creio que não, não mesmo. Peguemos os EUA como exemplo: a Ficção Científica lá começou, exatamente, pela popularização. E depois de décadas como popular é que galga por respaldo dentro da “elite” literária [Isso é mais evidente no Reino Unido, creio, essa luta pela aceitação da Ficção Científica entre as falanges da Literatura “séria” e respeitada, etc.]. Ou seja: popularizar é sim, o caminho. E isso não é sinônimo de emburrecer, e sim de aumentar o alcance, abranger o diálogo. Dialogar com um número maior de leitores e leitoras, falar de algo que tenha sentido para eles.

    Literatura é diálogo, e a ficção científica não deixa de ser. Utilizamos conceitos diferentes pra o diálogo – com um pé, ou dois, ou vários, na ciência -, mas sempre em mente que essa conversa com o leitor é fundamental. Transformar essa comunicação entre autor e leitor em algo rebuscado, seja pela via da inserção tecnológica com conceitos distantes do público, seja por uma série de arabescos pretensamente estilísticos, não me parece o melhor. E pros que defendem que a Ficção Científica é, necessariamente, ciência, me lembro da Ursula K. LeGuin, que afirma: “Toda Ficção Científica é metáfora”.

    Além do mais, temos uma população majoritariamente urbana. Uma educação ainda deficiente que reflete num índice de leitura depressivo, porém ainda temos sucessos, e ainda dentro da literatura de gênero! E também vemos cada vez mais a tecnologia se infiltrando no cotidiano do cidadão do país. O Brasil é cyberpunk, lembrem-se disso!

    PS: A única coisa que peço, encarecidamente, é que se escreva bem.

  13. Marcelo Jacinto Ribeiro Says:

    Senhoritas e senhores !

    Do meu ponto de vista a FC já é um tipo de literatura elitizada, visto que trata na maior parte das vezes de assuntos fora do cotidiano, o que exige do leitor uma maior bagagem cultural para entendê-la. Se observarmos as obras de FC mais populares veremos que o segredo de seu sucesso é justamente colocar uma roupagem nova e diferente em um conceito já estabelecido ( a jornada do herói, com seus milênios de existência é o melhor exemplo ). Assim elitizar ainda mais a FC seria basicamente falar para o próprio umbigo.

    Então devemos popularizar a FC no Brasil, aumentar a base de leitores e fãs do gênero. Mas como, se no país a cultura é um “artigo de luxo”, aonde é mais fácil fazer sucesso falando palavrões, chacoalhando bundas e peitos e cantando sua superioridade sobre os outros ? Em um país em que sub-celebridades avaliadas por seus dotes físicos e fofocas sexuais fazem mais sucesso que qualquer coisa, como apresentar algo que exige mais, que demanda uma atenção maior, que força os limites? O mercado QUER CONSUMIR o que desejamos e queremos produzir ? Será preciso “prostituir-se”, deixar de lado nossos objetivos e escrever sobre o que o público quer ler ?

    Sempre quis escrever e viver de FC, Sempre entendi seu potencial para contar histórias relevantes como ilimitado, a capacidade de metáforas infinita. Sempre vi o gênero como o grande espelho aonde o homem pode se enxergar sem meias verdades e buscar um caminho melhor, aonde podemos falar dos sonhos mais utópicos e dos pesadelos mais horripilantes sem medo de patrulhas ou perseguições, afinal de contas tudo se passa em outro mundo, com outra raça. Mas também sei que a imensa maioria das pessoas busca apenas diversão, apenas um passatempo, apenas uma válvula de escape. Como produzir FC que se adeque as necessidades dos leitores, esse é o grande desafio.

    Por fim, uma metáfora em que sempre penso quando começo um trabalho: Stephen King foi severamente criticado ao afirmar que seus livros são como um hambúrguer do McDonald’s: simples, rápido, gostoso e que satisfaz. Em resposta disseram que também faz mal a saúde, não pode ser consumido no dia-a-dia e que fast food produzida em massa emburrece o paladar. Mas ainda assim todos lemos a adoramos sua obra. Caviar ou hambúrgueres ? Para mim a pergunta é outra: o que o cliente quer comprar ? Pois existem restaurantes de todos os tipos, e ambos vão muito bem, obrigado.

  14. Alvaro Domingues (Pai Nerd) Says:

    A pergunta “De que lado você está?” é um dilema. Se existe apenas duas opções não há opção nenhuma. E, para mim, não há necessidade de escolher um lado. Posso escrever de forma hermética um dia e de forma popular no outro. Escrever de um jeito ou de outro não me fará nem melhor nem pior. Há espaço pra todo tipo de escrita. A unica coisa que eu não farei é reclamar se escolher um tipo de escrita e ninguém me ler.

  15. Sérgio Luís da Silva Says:

    A FC Hard requer do leitor um mínimo de conhecimento científico, ou pelo menos curiosidade científica, para ser apreciada. Então, é mesmo o segmento mais “elitizado” da FC, no sentido de que a maioria dos brasileiros, com o baixo grau de escolaridade que têm, estão fora do público-alvo. No entanto, a julgar pelo estrondoso sucesso que filmes de super-heróis, alienígenas e máquinas inteligentes têm feito nos últimos anos, é possível fazer uma FC que agrade ao grande público, desde que a ênfase migre dos aspectos propriamente científicos e tecnológicos para os dramas humanos ou o dinamismo da ação. Não quer dizer que a ciência e a tecnologia devam ser eliminadas, pois isso descaracterizaria o gênero; mas apenas que elas devem compor a ambientação da história, e não o aspecto central da trama.

    Ninguém que faça uma história ambientada em nossa época, por exemplo, se detém a explicar o funcionamento de maravilhas tecnológicas como o avião ou o computador, muito embora a maioria das pessoas não saibam como essas máquinas funcionam. As pessoas simplesmente aceitam esses elementos como dados da realidade ficcional, e querem mesmo é saber o que vai acontecer com os personagens da história. Assim também, numa FC voltada para o grande público, como funciona uma nave espacial ou uma viagem no tempo ou a biologia de uma raça alienígena são coisas que não interessam à maioria dos leitores ou espectadores. O que interessa mesmo é o desenvolvimento da ação e dos personagens.

    O filme Avatar é um bom exemplo. Não é explicado em momento algum como se faz a viagem entre a Terra e Pandora, nem como aquelas montanhas ficam suspensas, ou qual é a composição da atmosfera daquele planeta que faz ela irrespirável para os humanos, nem porque vários dos animais daquele mundo têm seis membros, e porque os navii são exceção, com apenas quatro. Mas o filme gasta um bom tempo desenvolvendo os personagens, mostrando seu caráter, suas motivações, suas fraquezas, o envolvimento de uns com os outros, as decisões difíceis que têm que tomar. Porque é isso que realmente interessa ao público, não a ciência e a tecnologia fantásticas, que são apenas pano de fundo.

    Enfim, popularizar a FC requer isso: mais ênfase nos personagens, no drama e na ação, e menos na ciência e na tecnologia.

  16. Marcelo Correa Says:

    Acredito que a popularização trará beneficios. Além de tornar cultura da FC mais próxima ao alcance do publico que muitas vezes não tem acesso a ela , poderemos ter mais autores produzindo no país.

    No entanto como faremos isso?

    Baixando o preço de livros?

    Doando DVD’s de FC?

    O Brasileiro em sua grande maioria não gosta do genero. Os poucos que leem livros e assistem filmes preferem temas sobre comportamento entra casais(comédia romantica , romance , drama).

    Isso é tipico nosso.Então quem gosta de FC deverá encontrar seus pares bem longe de casa , apenas pela internet.

  17. Ricardo França Says:

    Em essência concordo mais com a posição da Mariana e do Marcelo Ribeiro de que o gênero já tem em si uma característcia que o distingue: uma exigência sobre o leitor que transcende o mero entretenimento. Neste ponto existe até uma interseção com a alta literatura – uma proposta de fomentar a reflexão. Eliminar isto é se permitir a manifestação de outro gênero, simplesmente.

    Se, porém, o que se deseja apenas é trabalhar com conceitos compreensíveis por uma vasta maioria o que pode se produzir com isso é forçosamente uma limitação – mesmo que inerente a todo processo de comunicação – que é a da adequação mútua dos três apoios do processo: O emissor (produzir criativamente com maior cuidado e refinamento da técnica e do gosto de se escrever uma história), o meio (fazer tanto fisicamente a mensagem chegar como codificá-la da forma correta) e o receptor (a parte mais difícil a meu ver – especular sobre a forma como a mensagem vai ser recebida e se vai gerar o desejo de se repetir a experiência). Não nos esqueçamos de que demandas geram ofertas mais do que o contrário, e se não soubermos sintonizar com a expectativa do público em geral o destino é o pequeno alcance da obra.

    Proponho então que nos foquemos num aspecto: o do ponto de partida, das circunstâncias de como se passa a se interessar por FC e tentar emular esse efeito de “despertar” em outras pessoas (de preferência diferentes de nós), mas não de simplesmente nos conformarmos com os hábitos alheios senão acabaremos ficando na efemêra e triste miopia existencial (muito típica do brasieiro) de nunca se fugir da zona de conforto.

    E a proposta do Tibor de se ir apresentando aos poucos os elementos de FC é uma estratégia de longo prazo que parece bastante louvável, mas esbarra numa série de suposições, como a da concorrência (e uma indistinção esvaziante) com os outros gêneros; a da divulgação coerente (que caberia pouco aos autores e mais aos editores e livreiros como intermediários que são); a da impossibilidade de modificarmos uma situação de carência no suporte de conceitos de ciência e de tecnologia por parte da população (que existia nos EUA p.ex.); e a de acabarmos por fazer algo que como autores possamos achar insatisfatório (a não ser que assumamos mais a a posição de artesão – que sempre aceita encomendas – do que a de artista – que só quer expressar uma visão interior).

  18. Rubem Cabral Says:

    Muito do que penso já foi comentado acima: simplificar a linguagem, mas não abrir mão da qualidade dos temas abordados.

    No entanto, o equilíbrio, para se obter obras sofisticadas e simples ao mesmo tempo, será um desafio formidável para os escritores. Como, por exemplo, abordar teoria das cordas, relatividade, microbiologia, bioquímica, sem ser didático ou hermético?

    Outro ponto que levanto é que a aproximação da FC a temas e personagens nacionais também poderá resultar em maior popularidade do nicho. Digo, é mais fácil ter empatia com personagens mais próximas de nossa cultura, assim como personagens bem desenvolvidas (um problema meio frequente em FC são as personagens muito planas).

  19. Ficção Científica brasileira. Elitizar ou popularizar? | Paraliteraturas + Pessoa, Borges e Lovecraft | Scoop.it Says:

    […] Recentemente provoquei uma intensa discussão a respeito do Fandom (mais uma vez), sobre a sua importância intrínseca para o gênero. Muitas vozes se posicionaram, houve debates, sugestões, posiciona…  […]

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