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Brinquedos Mortais e outros assuntos.

27/02/2012

Novos projetos

Estive afastado de meu blog por um longo período. Desde a última postagem, pouco mais de dois meses de ausência. Encontrava-me em mergulho profundo num novo romance de ficção científica; tão mergulhado que ignorei várias submissões cujas deadlines estavam dentro ou perigosamente próximas do horizonte de eventos de meu romance. Esse projeto me absorveu por completo. Passou pelas mãos hábeis de três leitores beta e ainda está nas mãos de mais dois. Depois deles, entregarei o romance a um sexto leitor, cujo nome não defini (aceito sugestões e solicitações). Ainda não fechei com nenhuma editora. Não tenho pressa.

Comecei paralelamente um novo romance, esse de Fantasia. Não é comum escrever um seguido do outro; geralmente me dou alguns meses de intervalo. Uma espécie de período de desintoxicação. Mas a ideia brotou com força e pediu para ser colocada no papel. Não devo afrontar a musa. Quem é escritor, sabe o que estou dizendo.

Coletâneas

Embora tenha me afastado das submissões, fui convidado para algumas coletâneas e os contos que produzi foram em data anterior ao “mergulho” (com exceção de um deles para o qual já estava comprometido. Sinto um pouco que o resultado do conto, escrito meio que sob pressão, não tenha sido inteiramente do meu agrado). Assim, em 2012 estarei presente em pelo menos 6 coletâneas. Cinco delas como convidado e noutra como organizador, o que me leva a outra questão:

Brinquedos Mortais

Os autores aprovados nessa coletânea devem ficar tranquilos. O processo de publicação vai de vento em popa e não deve demorar a divulgarmos a capa definitiva (o trabalho de elaboração está em andamento e os rascunhos entusiasmam). Logo, logo teremos uma excelente seleção de contos numa obra que reúne os melhores nomes da FC nacional.

Leituras

Enquanto escrevo um romance, não leio. Sempre fui assim. Então estou sem ler livros desde setembro. Faço leituras esporádicas de revistas, jornais, panfletos, rótulos de xampu. Estou com uma revista Piauí nas mãos há duas semanas e só li até agora uma matéria. Estou na entressafra e não sei quando vou abrir as páginas de um livro novamente (talvez demore mesmo… devo receber meu Kindle Fire nessa semana :)).

E por enquanto, é isso.

Mercado editorial. Big Crunch previsível.

19/01/2011

Quando publiquei meu primeiro livro (Síndrome de Cérbero) não havia, nos meus parcos conhecimentos da época, uma editora (fora a Devir) preocupada em lançamentos de autores brasileiros de gênero. Todas as outras publicavam o gênero esporadicamente, ou disfarçados para não parecerem FC ou de autores consagrados lá fora (ou ambas as coisas juntas).

Pouco a pouco foram surgindo pequenas editoras, provocando uma espécie de Big Bang editorial que vem se expandindo até agora. Acho muito curioso e significativo que surjam a cada dia novos selos, novos editores, novos organizadores. Sinal claro de que essa expansão continua a todo vapor.

Mas será que temos mercado para o boom de publicações que está se verificando?

Enquanto se amplia o mercado editorial, o de leitores continua estagnado. Ora, podemos argumentar que mesmo assim temos leitores suficientes para suprir a demanda e que há nichos suficientes para satisfazer as necessidades das editoras. Mas as editoras de ocasião (e organizadores oportunistas também) pululam, surgindo umas após as outras, num ritmo espantoso. É de se supor que viveremos uma saturação próxima.

Existem autores suficientes para suprir a necessidade de qualidade?

Sim, eles existem.

Por outro lado, é grande a quantidade de coletâneas que vão pipocando aqui e ali. A maioria delas sem uma atuação rigorosa dos seus organizadores, mais preocupados no cumprimento de prazos e na automassagem do ego do que em selecionar trabalhos de primeiro nível (alguns autores acabam se salvando nessas sopas ralas). As autopublicações também não ajudam nesse sentido, trazendo mais porcarias ao mercado que obras surpreendentes (não as condeno, porém. Para alguns não sobra alternativa). Salvam-se (quase sempre) as obras que passam obrigatoriamente pelas mãos de um editor, figura essencial nesse mercado. E é nas mãos de poucos editores competentes, dedicados e comprometidos que veremos o mercado sobreviver.

Acredito que esse Big Bang editorial acabará sofrendo uma estagnação súbita em algum momento de sua expansão e a contração que advirá será inevitável. Sobreviverão apenas as casas editoriais sérias, os organizadores empenhados com qualidade (e não com o oba-oba, próprio do meio) e os autores mais preparados tecnicamente. Os demais ficarão perdidos na areia do tempo, esquecidos.

De qualquer forma, agradeçamos. São os autores ruins que ajudam a destacar os bons. São as editoras de ocasião que ressaltam as sérias e são os organizadores oportunistas que engrandecem o trabalho dos sérios e compromissados.

Confirmando o ditado popular, nosso mercado editorial é uma balança onde pesos e medidas nem sempre estão de acordo. Mas não sei dizer até onde isso é ruim.

O livro negro dos vampiros. Lido e comentado.

26/07/2010

Há meses abordei um assunto que se revelou polêmico e é, até agora, uma das postagens mais acessadas do blogue. Falei sobre coletâneas que se esparramam, sendo amontoadas nos rodapés. Discuti os propósitos de suas organizações e os resultados advindos do esforço hercúleo de reunir em um só tomo dezenas de contos que se pretendem de boa qualidade.

Lembro que fui aplaudido e vaiado, ora por autores e leitores decepcionados com os resultados dessas coletâneas, ora por organizadores que vestiram a carapuça, demonstrando contrariedade com meus argumentos.

Recebi há poucos dias alguns livros para ler e comentar. Entre eles dois de publicação da Andross Editora. São eles: Anno Domini e O livro negro dos vampiros. Este último eu terminei de ler agorinha há pouco.

Salvo a bela capa, impossível acreditar que houve uma seleção realmente criteriosa, fundamentada na qualidade dos trabalhos recebidos, como defendido na apresentação da obra. São 53 trabalhos, os mais diversos. Tantos que me absterei de comentá-los um a um, tarefa que me absorveria demais.

Devo ressaltar que alguns contos conseguiram me fazer criar categorias novas de avaliação. Assim, criei o duplo Eca! e o triplo Eca!. O último concedido a apenas um conto, cujo autor merece meus sinceros e entusiásticos aplausos.

Também me decepcionou a revisão (fragilíssima) e a diagramação.

Vamos aos contos, autores e avaliações:

1-    Mais uma noite – Liz Marins –

2-    Reflexos de um vampiro sobre reflexos – Léo Vitor –

3-    Nem alfa, nem ômega – Gustavo Campello –

4-    Nina e Nicolau – André L. Pavesi –

5-    A investida do vampiro, em três atos – Renato Arfelli –

6-    Lextalions: O segredo de Caim – Marcelo Aceti –

7-    Um vampiro em minha vida – Tânia Rocha –

8-    Sacramento – O início – Marcos T. Nogueira –

9-    Segundas intenções – Silvio Alfredo de Oliveira Augusto –

10- Axius – Fábio Fabrício Fabretti –

11- Branco como a neve… – Vitória Hellsing –

12- Santa Rosa – Samuel DC –

13- Dark Road – W.P. Conspícuo –

14- A vítima perfeita – Marcio Renato Bordin –

15- Caça e Caçador – Tales de Azevedo –

16- Valores, desejos e Dry Martini – Ary P. Hahne –

17-  O melhor das safras – Vitor Alcântara –

18- A primeira noite – Rodolfo Mattos –

19- A vingança de Simon – Rafael Bernini –

20- Sombra sombria – Felipe F. Lopes –

21- Tempos modernos – Kathia Brienza –

22- Memória póstuma – Luciana Baccarin –

23- Encontro eterno – Rodrigo Bruno –

24- Amor no sangue – Maria do Carmo Fortuna –

25- A gênese do mal – Alexandre Copelli –

26- A última batida de meu coração – Ricardo Delfin –

27- O mistério dos papeis – Graziele Ruiz –

28- Garuda – Bruno Miguel Rosende –

29- Preto da noite, vermelho do sangue – Guilherme Sandi –

30- Ato profano – Lady Wilmot –

31- Resguardos noturnos – Renato Zapata Kannebley –

32- O resgate – Mariam Santiago –

33- Santo Sepulcro – Denise M. Guimarães –

34- Somos vivas, enfim – Emilia Ract –

35- O último quadro – Alex Sens Fuziy –

36- Olhar desluzido – Luciana Fátima da Silva –

37- O vampiro da consolação – Lizi Tequila –

38-  Você tem fé? – Juliana Ribeiro Cintra da Cruz –

39-  Maldição – André Caniato –

40- Destino – Vampy Lu –

41- Escolhas – M.J. Borghi –

42- Fome – Cesar de Lima –

43- Quase Jolie – Eunice Bemfica –

44-  A caçada – Helena Gomes –

45-  Zapping – Brontops –

46- O último manuscrito – Ed Wanger –

47- El mosquito – Denize Müller –

48-  Passione Nocturnale – Dimítry Uziel –

49- Charlote e o espelho – Ebbios Traumer –

50- Maternidade – Claudio Brites –

51- Vitela – Tiago Araújo –

52- No dobrar da hora morta – Kizzi Ysatis –

53- Um conto de vampiro – Octavio Cariello –

Já é difícil conseguir manter uma média de qualidade considerada boa numa coletânea com uma dúzia de trabalhos reunidos. Que dirá numa com 53?

Por outro lado, a quantidade de contos ruins e muito ruins é grande demais para aceitar que houve preocupação mínima com boa qualidade. Com as avaliações dadas, a coletânea O livro negro dos vampiros recebe um como avaliação final.

Mais um bom argumento contra as coletâneas caça-níqueis. E lamento pelos autores que, sem nenhuma condição de publicar, foram aceitos nesse livro. Bom para o ego, mal para a imagem. Que burilem melhor seus futuros trabalhos e não pensem em publicar antes de terem a mais absoluta certeza de que tenham atingido um nível aceitável de qualidade.

O melhor da FC brasileira em seu segundo volume.

24/02/2010

Quando o livro Os melhores contos brasileiros de ficção científica foi lançado, não faltaram críticas à seleção de contos. Agora fica claro para todos, detratores ou não, que se trata de uma série que não se restringirá a apenas dois volumes.

Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica: Fronteiras, livro que dá prosseguimento ao projeto da editora de resgate de contos importantes do passado, iniciado com Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica (2008), um dos sucessos do selo Pulsar.

Este segundo volume traz 14 histórias, por Lima Barreto, Berilo Neves, Afonso Schmidt, André Carneiro, Domingos Carvalho da Silva, Jerônymo Monteiro, Rubens Teixeira Scavone, Lygia Fagundes Telles, Marien Calixte, Jorge Luiz Calife, Braulio Tavares (com um conto ganhador do Prêmio Nova), Ivan Carlos Regina, Cid Fernandez e Leonardo Nahoum. A seleção acentua os encontros – dentro do conceito do “fronteiriço” – da ficção científica com outras formas de literatura de gênero (como o horror ou a fantasia), e com a alta literatura.

Variada, a antologia oferece contos muito diversificados em tom, tema e estilo, de narrativas apocalípticas a ficção religiosa, histórias de revolta da natureza, de opressão totalitária, guerras e mistérios espaciais, e visitas alienígenas à Terra.

Com capa de Vagner Vargas e 186 páginas, custa apenas R$ 21,95.

Comprar é importantíssimo para manter a FC Nacional em constante evidência. E não só por isso, mas também pela oportunidade de ter em mãos uma coleção de bons contos. E o preço, vamos ser justos… é beeem camarada.

Em qualquer livraria perto da sua casa.

2010 será memorável.

21/01/2010

2010 começa em grande estilo. Para muitos começou no dia 1. Para mim, começa agora, que é quando arregaço as mangas e volto ao trabalho. Diferente de muitos, é quando estou trabalhando que tenho mais tempo para me dedicar à literatura. De férias acabo tão assoberbado de tarefas que pouco ou nada me resta para dedicar à leitura e à escrita. Que dirá para abordar isso em meu blog.

E para começar, porque não falar sobre a editora que está bombando no mercado, com lançamentos seguidos e promessas futuras de tirar o fôlego?

A Draco vem colecionando autores e obras numa sucessão incrível. Espero que isso continue e que o retorno em vendas a ajude nessa tarefa.

Assim, anuncio uma lista de lançamentos para publicação nesse ano. Alguns vocês já conhecem, mas outros só conhecerão agora:

1- As coletâneas Imaginários 3 e 4, organizadas por Erick Santos;

2- A coletânea Vaporpunk, organizado por Gerson Lodi e Luis Filipe Silva;

3- O romance Xochiquetzal de Gerson Lodi, que lançará ainda esse ano, pela editora, o romance de FC hard A guardiã da memória;

4- O romance A guerra justa de Carlos Orsi;

5- A novela Selva Brasil de Roberto de Sousa Causo;

6- O romance Annabel & Sarah, de Jim Anotsu;

7- O romance fix-up Neon Azul de Eric Novello;

8- O romance O castelo das águias de Ana Lúcia Merege;

9- O romance O baronato de Shoah de José Roberto Vieira

10- O romance O desejo de Lilith de Ademir Pascale;

11- Um romance de Estevão Ribeiro, cujo título me foi solicitado segredo;

12- A coletânea Gastronomia Phantastica, organizada por Ana Cristina Rodrigues;

13- A coletânea Brinquedos Mortais, organizada por Saint-Clair Stockler e Tibor Moricz;

14- A coletânea O grande livro da magia, organizado por Janaína A. Corral;

15- Uma antologia de Antonio Luiz M. C. Costa, Eclipse ao pôr do sol e outros contos fantásticos;

16- At last, but not least Dias estranhos, antologia de Saint-Clair Stockler.

Existem ainda outros projetos, vários deles, que poderão, ou não, estourar ainda nesse ano. Em todos eles, a marca da editora que veio com força para firmar sua presença no mercado editorial. Nunca tantos lançamentos foram feitos por uma só editora e em tão pouco tempo.

Longa vida à Draco!

Se vão pagar, pelo menos exijam seus direitos.

01/10/2009

Novos autores

Não pretendia voltar a este assunto tão cedo, mas é impossível ignorar a quantidade de acessos que meu blog recebe, baseado em pesquisas feitas em ferramentas de busca com o tema: editoras+autores novos+publicação (e inúmeras outras variações).

Nas últimas três semanas foram computados mais de 80 acessos a partir desses  termos. São inúmeros novos autores desesperados em busca de editoras dispostas a publicá-los.

Sabemos que o mercado é extremamente seletivo e somente aqueles com talento indiscutível (ou ótimo potencial) e produção constante encontram lugar. Mesmo assim à custa de muito esforço, de muita batalha. Esse pequeno exército de autores novatos é mercado fértil para aqueles que organizam antologias pagas.

Recentemente vi um comentário numa das comunidades do Orkut voltadas a FC ou Fantasia, de uma nova autora procurando editora onde pudesse pagar pouco para publicar. Surpreende a inversão de valores. Sente-se que, pouco a pouco, vai se cristalizando o conceito de que para publicar é necessário pagar.

Li também uma curta entrevista com um autor do Sul, que publicou agora o primeiro livro. Ele diz num certo momento que se recusava a pagar para publicar e que só o faria se fosse através de seu talento. Caso contrário amargaria a não-publicação. Encontrou uma editora, por sorte (e por competência), que bancou seu livro.

São dois  extremos da mesma história. Mas essa gangorra vai lentamente tendendo mais para o lado das editoras sob demanda e as que organizam coletâneas pagas. Elas vão engolindo o mercado, sôfregas, se aproveitando dessa massa de “autores” desesperados, dando-lhes um lugar no papel, mas não lhes garantindo nada depois disso.

Apesar de estarem prestando serviços, tratam o “cliente” como se fizessem para ele um imenso favor. E os “clientes” agradecem o favor recebido, incientes de terem financiado todo o projeto e além dele.

O anonimato continuará a rondá-los (à grande maioria), mesmo que exibam, orgulhosos, o livro onde constam seus nomes, misturados a outras dezenas, igualmente anônimos nessa turba de escritores desvalidos.

Não me parece que haja meio de reverter isso.

E lamento.

Dica 1: Se forem publicar em coletâneas pagas, exijam um contrato onde sejam tratados como clientes e onde estejam estipulados todos os dados inerentes à obra e ao seu texto. Nesse contrato deve fazer parte a lista de obrigações do contratado,  tais como: revisão, distribuição, análise crítica, pagamentos de DA e cláusulas relativas a uma possível segunda edição. Se qualquer uma dessas cláusulas não for obedecida, vocês têm o direito de exigir o dinheiro de volta (mesmo com o livro já publicado).

Dica 2: Procurem um bom advogado ou alguém mais experiente para detectar os “truques” de contrato, as cláusulas leoninas, as ausências. Não se deixem levar no bico. Vocês estão PAGANDO!

Do blogue para o papel, sem escalas.

14/09/2009

Maquina de escrever portátil

Lembro-me quando amontoava escritos em minhas gavetas. Passava quase todas as horas disponíveis do dia e parte da noite escrevendo numa máquina de escrever portátil. Foram centenas de contos. Todos eles perdidos em muitas mudanças, vencidos pela umidade. Iam se desfazendo, os grampos enferrujando e fazendo marcas no papel.

Eu os olhava e me orgulhava da produção constante. Tinha todas as histórias de cor, podia contá-las, uma a uma, para qualquer um que quisesse ouvir só um pouquinho das maravilhas que me passavam pela cabeça.

Mas era tudo papel. E papel se perde. O tempo trata de destruir documentos, principalmente quando não nos esforçamos devidamente para mantê-los.

Hoje as coisas mudaram. Mantenho arquivos de documentos em diversos espaços virtuais, fora o pendrive. Não acumulo mais papel. Nem eu nem mais ninguém.

Hoje também está fácil exibir o que escrevemos. Basta postar numa revista virtual, num blogue literário, num blogue ou site pessoal. E não há coisa que mais abunde que blogues e sites dessa natureza. Para todos os gostos. E todos os blogueiros resolveram que tem muito que contar. E contam tudo o que lhes passa pela cabeça. Inundam suas páginas virtuais com detalhes comezinhos de suas vidas, de suas aspirações, de seus desejos mais secretos (que, paradoxalmente, deixam de se secretos).

Muitos, nesse afã de escrever, decidiram: somos escritores.

Assim, surgem da noite para o dia, todos os dias, milhares de “novos escritores”. Desfilando textos de todas as espécies, escritos em bom português ou não. Bem escritos ou mal escritos. Apenas escritos. E a eles isso parece bom. E dizem que é bom. E pedem aos amigos que visitem o blogue e comentem. Pedem que elogiem, porque elogio é tudo o que procuram. Querem que o mundo veja o que eles já descobriram há tempos: que são escritores. E talentosos. E escreverão histórias que revolucionarão a literatura mundial. Todos eles. Um revolucionário por segundo, revolucionando o universo.

Houve tempo em que olhava para meus escritos e me perguntava o que faria com eles. Relia-os, reescrevia-os e voltava a guardá-los.

Hoje a virtualidade aceita tudo, engole tudo, guarda tudo. Com a vantagem de permitir que outras centenas ou milhares de pessoas compartilhem os escritos. Não há o conformismo de se saber não-lido. Eu era, em tempos idos, um não-lido. A família não contava. Os pouquíssimos amigos de fato, não contavam.

Há escritores de blogue, escritores de Twitter (mestres da síncope e da apócope), escritores de todos os tipos. Banalizou-se a figura do escritor, embora o ser-escritor ainda exija um currículo que englobe mais que publicações virtuais.

Aí é que entra o aval da celulose. Ainda precisamos retornar ao papel apesar de todo o aparato científico. E essa massa ignara de “escritores de blogue” vai, pouco a pouco, procurando, famélica, uma antologia ou coletânea para figurar. Uma forma de validar seus esforços virtuais, dando-lhes forma, o preto no branco, nas páginas de uma coletânea.

É aí que tombam os fracos. É daí que surgem os fortes. E é daí que sobrevivem muitas das editoras e dos organizadores de coletâneas e antologias por atacado, que vampirizam os incautos “autores” (parafraseando a Ana Cristina Rodrigues).

Trata-se de um mercado imenso, formado por jovens ansiosos em se tornar escritores de fato e não apenas de direito, por um direito discutível que a virtualidade lhes concede. Porque acreditam que o livro impresso lhes garante reconhecimento. Que a partir do momento em que o tiverem em mãos, a preço de ouro, serão vistos e respeitados.

Ocorre uma desvalorização de talento sem precedentes. Encaramos um autor novo com desconfiança. Não há mais o lastro que o mercado fechadíssimo oferecia antes aos poucos que conseguiam conquistá-lo. Porque antigamente a conquista de espaço era decidida pelo talento, pela capacidade e pela força inata que o escritor (esse de fato e de direito) possuía (muitas vezes o QI também ajudava como ajuda agora). Não havia editoras por demanda, nem antologias por baciada para, pagando, ter um escrito imortalizado em papel impresso.

Não critico todos os blogues nem todos os blogueiros. Se por um lado esse fenômeno fez surgir “escritores” à mão cheia, por outro fez também com que muitos deitassem de lado sua timidez e passassem a se comunicar com o mundo de uma forma indireta, mas também válida. A comunicação evolui, precisamos evoluir com ela.

Porém, aqueles que anseiam por reconhecimento público se esfregam uns nos outros como salmões que sobem a correnteza para a desova. Esses escritores de blogue buscam as editoras de coletâneas inscientes de que o que os aguarda – a quase todos – ao fim da jornada (ou até antes dela), é o definhar literário.

*Adendo referente ao artigo publicado em 09 de setembro de 2009 (Um esparrame de coletâneas. Nelas se alimentam os rodapés): A Editora Saída de Emergência (Pulp Ficcion à Portuguesa) a Editora Terracota e a Tarja Editorial não são editoras de coletâneas e antologias pagas. Atuam em seus mercados como casas publicadoras tradicionais. Por outro lado, esqueci-me de citar a All Print Editora como uma das que elaboram coletâneas pagas. Fica a correção.

Editora filantrópica procura novos autores.

11/09/2009

books

Só para jogar mais lenha na fogueira que foi acesa com a matéria “Um esparrame de coletâneas. Nelas se alimentam os rodapés”, venho agora discutir os preços praticados por uma ou outra editora envolvida em projetos literários que visam publicar coletâneas com o financiamento direto dos autores.

Claro que não tenho um panorama geral do que é pago por elas aos outros prestadores de serviços (gráficas, capistas, diagramadores, revisores). Mesmo porque esse panorama não me seria fornecido, nem que eu o solicitasse cheio de mesuras. Sou, todavia, um publicitário cujas ligações com empresas gráficas ultrapassam a mera curiosidade. Faço cotações e negociações.

Mas não me escapa que costumam cobrar por volta de 400 reais de cada autor, na forma de vendagem de certa quantidade de livros (normalmente em torno de 20 exemplares).

Considerando-se que nessas coletâneas não costumam entrar menos que 20 autores, teríamos então uma arrecadação inicial garantida de 8 mil reais.

Vamos então considerar que serão impressos 1000 exemplares do livro em questão. Desses mil, 400 exemplares já estão comprometidos junto aos autores. Os demais, 600 exemplares, serão colocados a venda.

Prestem bem atenção: os primeiros 400 exemplares já pagaram toda a edição, incluindo aí a diagramação, a capa e a revisão (revisão? Jura? Eles fazem isso?). Evidente que as editoras não vão procurar capistas consagrados, cujos serviços são bem caros (não digo que as capas feitas sejam feias ou ruins. Apenas afirmo que são bem mais acessíveis). O projeto não tem essa finalidade. A finalidade declarada é divulgar novos autores.

Claro que muitos vão protestar dizendo que 8 mil reais não são suficientes para bancar uma publicação de 1000 exemplares de um livro com não mais que 200 páginas no formato 14×21.

Que protestem, oras. Mas tenho para mim que pagam, sim. E ainda sobra um bom bocado, senão o projeto não teria razão de ser (não me consta que essas editoras sejam filantrópicas).

Dessa forma, restariam ainda 600 livros para serem distribuídos e vendidos, retornando em dividendos para a editora que, desde o início, não precisou investir praticamente nenhum centavo em todo o projeto.

Bem, assim chegamos à conclusão de que os autores acabam pagando por todo o processo (que é mais do que uma simples despesa operacional, como alegam) e ainda possibilitam à editora continuar faturando na eventual vendagem do produto (que ocorre, senão os custos para os autores subiriam consideravelmente).

Vejam bem, não estou dando nome aos bois; que cada editora vista a carapuça que lhe convir. Não me venham criticar porque acusei essa ou aquela de extorsão (política de custos, segundo ouvi alguns dizerem).

Vale a pena para os autores envolvidos? Eu arriscaria dizer que sim, mas só para aquela minoria que possui algum talento latente. Talvez não tenham outra forma de entrar no mercado, senão essa. Arriscam-se em coletâneas onde dividirão espaço com outros escritores, esses medíocres (ou menos que isso).

O que me confrange é que os organizadores sabem o que têm nas mãos. Sabem quem ali poderá ter algum futuro, sabem quem está perdendo tempo (e dinheiro). Mesmo assim, recolhem o óbolo.

Poderiam, sem dúvida, peneirar mais os textos recebidos. Talvez até o fizessem se o tempo fosse mais estendido. Mas ele urge e é necessário fechar a coletânea porque atrás vem outra e outra e outra, num moto continuo. Uma indústria pródiga.

De acordo com o que foi comentado anteriormente (Ivo Heinz na postagem anterior), isso se caracteriza como prestação de serviços. Editorialmente falando, não existe nesse caso a figura da editora (ela, sim, uma contratadora de serviços).

Mas aí vamos começar a adentrar um terreno pantanoso que permite réplicas, tréplicas e até escolha de armas. Como não contratei guarda-costas até agora, prefiro parar por aqui.

Quem tiver dados esclarecedores para fornecer (que me desmintam), que os forneça agora ou cale-se para sempre.

Um esparrame de coletâneas. Nelas se alimentam os rodapés.

09/09/2009

Pilha de Livros2

Pipocam, cada vez mais, as coletâneas por aí. Menos bancadas pelas editoras, mais pelos autores no afã de entrarem no mercado literário ao preço que for.

Questiono, nesses casos, o mérito dos organizadores, já que não está em jogo a qualidade dos trabalhos e sim o poder econômico sustentado por contratos nem sempre tão claros. Autores na ânsia de ver seus trabalhos publicados, se sujeitam aos rigores desses contratos, garantindo antecipadamente os lucros da editora envolvida (que lucra duas vezes, uma pelas mãos dos autores, outra pelas mãos de leitores eventuais que adquirem os livros nas livrarias). Além do fato de que nessas coletâneas mais claramente se vê o joio que o trigo.

Mas independente disso, as iniciativas, todas elas, tem sua importância. Fazem agitar o mercado, trazem atenção sobre um mundinho ainda meio que ignorado (estamos aqui a falar da literatura de gênero, mais especificamente de ficção científica e fantasia) e acabam por revelar nomes antes desconhecidos, mas bastante talentosos.

Paradigmas, Ficções de Polpa, Portais, coletâneas promovidas pelas editoras Andross, Terracota e Giz (não vou citá-las uma a uma), Fábrica dos Sonhos, Pulp Ficcion a Portuguesa (embora lusa, abriu espaço para autores brasileiros) e outras mais.

Esses formatos têm-se mostrado dinâmicos, e inundado o mercado com contos que revelam o esforço dos autores em narrativas curtas nem sempre bem sucedidas. Se servem para fazer flutuar em sua superfície aqueles cujo resgate é obrigatório, também auxiliam no discernimento dos outros que afundam e a quem o mercado não estenderá a mão (em algumas coletâneas, muito mais esse caso que o outro).

Há lugar para mais dessas coletâneas? Claro que sim. Mas seria utópico almejar que fossem bancadas pelas editoras, com organizadores inteiramente voltados aos melhores trabalhos, fornecendo um padrão médio de qualidade mais elevado do que se vê hoje por aí? Fica a pergunta.

É bastante confortável organizar um livro que já sai lucrativo do prelo, independente do conteúdo que carrega no bojo. Melhor isso que se enervar, incerto se a tiragem alcançará venda que justificará a publicação. Pelo menos é assim que pensam as pessoas envolvidas no processo. E não quererão largar esse osso, depois de tê-lo roído um pouco.

Aos compradores eventuais fica a adrenalina de um esporte radical, onde não se sabe se o dinheiro investido resultará em benefício ou em irritação. Aos autores tudo é lucro, mesmo tendo enfiado a mão no bolso para garantir que o projeto não soçobrasse (e jamais soçobra) e com ele suas esperanças de entrar no fascinante mercado literário.

Quem mais se alimenta com tudo isso além das editoras e dos organizadores envolvidos são os armários, os rodapés, os cantos de sala, os vãos sob as camas. Entulham-se neles os livros que o autor não pôde vender e os comprou ele mesmo por força de contrato.

Ficção de Polpa 3 – Comentários – 2ª parte

28/08/2009

polpa3-350

Encerro, aqui, a leitura do Ficção de Polpa volume 3. Como já dito anteriormente, esta série me surpreendeu bastante. Autores com competências admiráveis, histórias surpreendentes. Torço para que lançamentos como esses sejam feitos mais vezes, por mais editoras. Que revelem autores novos, que nos tragam um lastro literário cada vez mais sólido e representativo. A Não Editora está de parabéns.

11- O corredor infinito – Fábio Fernandes

Com o perdão de Casimiro de Abreu; pelo enorme, pujante e supremo caralho de Chtulhu! Descubro agora que fluxos, fluxos, fluxos de trocadilhos, tocam a consciência literária, fazendo-se literatura. Esqueçam-se do resto, vamos trocadilhar e metaforizar até o cú do universo. Então encontraremos a morte.

12- Duas fábulas – Lancast Mota

Nenhuma coletânea de contos fantásticos poderia ficar sem uma ou duas fábulas para enriquecer as suas páginas.

13- Pelo alívio dos enfermos – Alessandro Garcia

Uma estonteante cornucópia de fatos, de pústulas e personagens. Tive que ler duas vezes para ter certeza de que uma terceira ainda faria bem.

14- Os seus novos sapatos – Marcelo Juchem

Cuidado ao acordarem! Antes de calçarem os sapatos, olhem bem para eles. Qualquer anomalia, corram! Sapatos famintos engolem dono dorminhoco.

15- Cricket Larson – Rafael Kasper

Um guarda-real confunde realidade com ficção. Narrativa muito bem conduzida. Um ótimo conto.

16- A vila das acácias – Silvio Pilau

Pais traumatizados pela morte do filho mudam-se para casarão de tia morta. Ao final, o protagonista não entende o assassinato que ocorreu. Nem eu. Nem ninguém entenderá. Que tal contratarmos um detetive médium para uma investigaçãozinha básica?

17- Todas as cobras – Emir Ross

Cobra engole homem adulto sem lhe triturar os ossos primeiro. Homem vive dentro da cobra, como Jonas na Baleia. Uma realidade fantástica. Uma imaginação surpreendente. Muito bom conto.

18- No meio da noite – Rodrigo Alfonso Figueira

Madrugada. Amigos ocultos num quarto temem perseguidores misteriosos. Fui implacavelmente arrastado por essa narrativa talentosa, numa correnteza insana e angustiante. Excelente conto.

19- Pelos dentes da baleia – Roberto de Sousa Causo

Indígenas querem explorar o grande-mar, arriscando conquistas numa nau construída sobre os ossos de uma baleia-mãe. Belíssimo conto. Narrativa primorosa.

20- Um insalubre sozinho no escuro – Cardoso

Cabeça chata? Bicho grilo? Zé Mané? Figuraça cheia de trejeitos e maneirismos de linguagem trava duelo com SAC em atendimento telefônico. Conto divertidíssimo.

21- O incidente do edifício 476 – Bruno Mattos

Testemunhos de personagens surpreendentes para contar uma história surpreendente. Toda a narrativa aprisiona o leitor, que anseia pelo final para, então, se surpreender mais uma vez.

22- Admirável mundo Monga – Samir Machado de Machado

Um belo conto onde nada é o que parece. O estilo lembra o de Neil Gaiman, muito bom!


Pedro Moreno

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