Posts Tagged ‘Literatura fantástica’

Kaori e o Samurai sem braço – Lido e comentado

10/01/2013

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Conheci Kaori antes de conhecer Giulia Moon. E foi na coletânea Amor Vampiro. Já na ocasião achei a personagem bastante forte para apenas uma história. Não foi surpresa nenhuma ver que a autora deu a Kaori um universo próprio, desenvolvendo-a em (até agora, mas tem espaço pra mais) três livros.

Vou ser sincero em admitir (mea culpamea máxima culpa) que não li os dois primeiros livros da saga (erro que estou a corrigir, já que comecei a leitura de Kaori, perfume de vampira).

Kaori e o Samurai sem braço foi uma leitura libertadora.

Vou explicar.

Andava cansado de ler obras de gênero cujos estilos e talentos se diferenciam tanto na pegada quanto na qualidade, quase sempre densos, ou experimentais, ou herméticos (ou simplesmente ruins, está cheio disso por aí). Andava como Jó, de vela em mãos, a procura de uma obra cuja prosa conseguisse me desintoxicar.

Giulia Moon tem o mesmo talento nato para a escrita quanto Kaori para a sedução… foi uma leitura deliciosa.

Nesse livro, Kaori vive aventuras no seu passado remoto, no tempo dos Xoguns.

Ilustração Kaori

Ela tem a vida salva por um Samurai — Kuroshima Kitarô, conhecido como Migitê-no-Kitaro (O Samurai sem braço) — e faz com ele um acordo: um ano ajudando-o na busca por um demônio chamado Shinkû. Vivem várias aventuras durante a busca por esse poderoso Bakemono, enfrentando monstros das mais diversas naturezas.

Ajuda-os uma pequena kitsune, raposa com poderes mágicos com a faculdade de se transformar em humano, nesse caso, numa mocinha esperta, comilona e bastante levada.

Narrativa com fino humor e ação precisa e bem descrita. A ambientação e o cenário – Japão do século XIII – são fascinantes. Envolvente até a última linha, trata-se de leitura tão agradável que quando você se dá conta, acabou. E isso é bom e ruim ao mesmo tempo.

Não por acaso Giulia Moon foi indicada e terminou entre terceiro lugar no Concurso Hydra, promovido pela revista eletrônica norte-americana Orson Scott Card’s Intergalactic Medicine Show e o Website brasileiro A Bandeira do Elefante e da Arara do escritor Christopher Kastensmidt com o conto Eu, a sogra, publicado no primeiro volume da coleção Imaginários em 2009 (organização Eric Novello, Saint-Clair Stockler e Tibor Moricz).

Se você ainda não leu Kaori e o Samurai sem braço, corra até uma livraria. Você não sabe o que está perdendo.

Kaori

***

Kaori e o Samurai sem braço

Editora: GIZ Editorial
Gênero: Fantasia
Formato: 16 cm x 23 cm
Páginas: 196

Livros recebidos – Agradecimentos

31/10/2012

Recebi da Giz Editorial os livros Cira e o Velho de Valter Tierno, Kaori e o Samurai Sem Braço de Giulia Moon e Betume de Rogério Santos. Agradeço imensamente a cortesia (mais especialmente a Simone Mateus e Giulia Moon) e já aviso que as leituras e consequentes resenhas virão em breve.

Algumas palavras para Editoras e Autores

24/10/2012

Como já devem ter notado, retornei com minhas leituras comentadas.

Já fazia algum tempo que o blog precisava ser reativado. Houve um período de lassidão onde relaxei de maneira generalizada (inclusive com relação às minhas atividades virtuais — no Twitter praticamente nem apareço mais). Também devido a projetos pessoais importantes, romances que absorveram todo o meu tempo disponível.

Retornar não significa que encerrei minha fase de projetos, mas que resolvi emergir de minha lassidão e voltar com as atividades blogueiras. Vou me concentrar prioritariamente nas resenhas e só postarei matérias relacionadas ao mercado editorial quando achar que são vitais ou mais do que isso (já que uso o Facebook como substituto).

Todas as últimas leituras (com exceção de duas) foram graças à cortesia das editoras, que me enviaram seus livros.

E é essa a questão que quero abordar nesta postagem.

Não farei parcerias. Não me ligarei institucionalmente a nenhuma editora, nem divulgarei banners ou obras senão através das próprias resenhas. As editoras e autores que quiserem enviar livros, sintam-se livres para fazê-lo. Não prometo as resenhas (porque não quero transformá-las numa obrigação), mas a cortesia potencializa consideravelmente a possibilidade de fazê-las.

Primeiro ponto importante: tenho lido e ouvido reclamações recorrentes a respeito da relação “resenha x cortesia”. Tem gente que acha que, porque me entregou o livro graciosamente, a resenha precisa ser positiva. Ou, ao menos, moderada. Ou, melhor ainda, bastante elogiosa. Se você pensa da mesma maneira, não perca seu tempo me mandando seu trabalho. Provavelmente ele nem valerá minha leitura.

Segundo ponto importante: talvez você (vocês) pense que, se não vou com a cara de alguém, a avaliação de uma obra do dito cujo será negativa. Errado. Não me deixo influenciar por questões comezinhas. Se o trabalho é bom, não me interessa quem o escreveu. Receberá elogios. Se o trabalho não convencer, será criticado. Sempre me pautei pela isenção e no que depender de mim (e só depende de mim) continuará assim.

Terceiro ponto importante: enviem livros publicados e em papel (ebooks, por enquanto, não) de literatura fantástica (ficção científica, fantasia, terror). Também aceito policiais. Poupem-me de não-ficção e poesia.

Os livros recebidos são, depois de lidos, doados (na maior parte das vezes). Não sou um acumulador, não tenho por hábito montar bibliotecas. Me bastam alguns exemplares em casa (principalmente os meus e as vezes nem esses).  Posso, eventualmente, sorteá-los no blog, mas detesto ter que ir ao correio e pagar despesas postais. Assim, os empresto na certeza de que nunca mais retornarão (não, não é desprezo. É desapego). Os que quiserem que eu os sorteie, podem ter certeza que pensarei com carinho a respeito.

Para os que procuram leitura crítica para originais, também a faço. Assim como preparação de texto (copidesque). Contatem-me em tibmo45@yahoo (.) com (.) br.

O grito do sol sobre a cabeça – lido e comentado

16/10/2012

Li os primeiros trabalhos de Brontops Baruq em várias edições do Projeto Portal capitaneado por Luis Braz. Foi aí que conheci a força desse contador de histórias. Causou-me tamanha boa impressão que o convidei para participar da coletânea Brinquedos Mortais. Considerei que não poderia abrir mão de um conto desse prosista surpreendente. Vê-lo lançar um livro não me causa admiração. Causaria se ele se demorasse com isso, se delongasse ou procrastinasse esse projeto.

Vale lembrar que Brontops Baruq foi o ganhador do prêmio Hydra com o conto História com desenho e diálogos, também incluído nessa coletânea.

O grito do sol sobre a cabeça reúne dezenove contos. Poderia comentá-los um a um, destacando os melhores, mas sinto que isso seria um desserviço. Não é caso para avaliações individuais — mesmo porque incorreria no risco de dar spoilers que estragariam a surpresa do leitor. Vou me ater ao conjunto da obra, discutindo-o como um corpo só, porque, apesar de multifacetado, há uma amalgama poderosa que os une numa só alma.

Brontops Baruq desfia um rosário de distopias. Mas não é um distópico ordinário, não. Ele foge à regra carregando-nos numa prosa elaborada, como engrenagens bem azeitadas, até quando não há mais escapatória. Só nos damos conta do fim quando não podemos mais escapar dele. A tessitura muito bem engendrada confere um raro prazer à leitura.

Na orelha do livro há o parecer de Caio Silveira Ramos e ele destaca a ferocidade do autor, o deslumbramento de sua obra, a perturbação e a sensação de estranhamento que provoca. Concordo. Mas quando sugere que Brontops não faz ficção científica senão de passagem apenas para corrompê-la, ignora o óbvio. A ficção científica é a alma da obra — embora desfilem também o insólito e o surreal. Destarte as metáforas, as referências, as críticas sociais — que existem em qualquer obra mais comprometida seja de que gênero for.

Brontops Baruq mostra que faz parte de uma escola onde qualidade de prosa e literatura de gênero convivem magnificamente bem. Demonstra que forma e conteúdo só melhoram, só engrandecem a literatura fantástica.

A sombra do sol sobre a cabeça

Editora: Terracota
Gênero: Contos fantásticos
Formato: 14 cm x 21 cm
Páginas: 166

O Andarilho das Sombras – Lido e comentado

08/10/2012

(Há Spoilers)

Conheci o Eduardo pessoalmente no Fantasticon em 2011. Na ocasião seu romance já se encontrava para avaliação nas mãos de Erick Santos, editor da Draco. Conversamos bastante depois disso, pelas redes sociais, e admito que fiquei curioso para ler a sua obra. Adquiri então o Ebook.

O andarilho das sombras se passa na Idade Média e conta a história de Harold Stonecross desde a sua infância até o momento em que se transforma num monstro. A narrativa é em primeira pessoa e alterna presente e passado; ora o homem ora o monstro que se revezam.

Não dá pra dizer que existe uma história com começo meio e fim. Trata-se de um avanço pari passu na trajetória do personagem. Seu dia-a-dia contado às vezes nos mais insignificantes detalhes, o que demonstra que o autor se debruçou em pesquisas históricas para construir cenário e ambientação bastante convincentes.

A narrativa cotidiana que nos leva através dos anos pela história do protagonista tem tudo pra ser a maior virtude do livro, mas também o maior defeito. A ausência de pontos de tensão inesperados é o que mais me fez falta. Todas as crises, os enfrentamentos, são razoavelmente previsíveis, não houve surpresa, nada que me fizesse exclamar.

Como o autor optou por narrar um-dia-após-o-outro, esse cotidiano acaba por se tornar rotineiro. As mesmas tarefas, os mesmos anseios, as mesmas surpresas. Não há antagonistas fortes, não há equilíbrio de poderes, a balança não pende ora para um lado, ora para outro. Essa ausência de emoções mais fortes acaba por tirar parte do apelo da história.

Outra coisa que achei um tanto exagerada foi a carga dramática. O autor exagerou em muitos pontos tornando-a quase caricata. Quando o drama é demasiado, perde a força. Assim como o motivo final que levou o protagonista a fazer um acordo que o transformou num monstro. Na Idade Média 1/3 (até mais) das crianças morriam antes de completar um ano de idade. A morte delas era considerada comum, não provocava surpresas. Não é razoável supor que um pai fosse sofrer tanto, de forma tão paroxismática, pela morte iminente de sua filha. Soou bastante forçado.

Mas o livro não é só resvalos.

A narrativa cotidiana acaba se mostrando também, magnética. Desperta a curiosidade conhecer o dia-a-dia dos personagens, todos eles bem construídos e explorados. A larga pesquisa histórica nos brinda com conhecimentos de época fascinantes. Sentimo-nos arrastados pela narrativa até as últimas páginas. Tanto que li o livro em pouco mais de dez dias. Para mim, um livro com tantas páginas, é um recorde.

Esse projeto pretende se transformar numa série. Apesar de ter lido o livro com rapidez, de tê-lo achado magnético, de ter encontrado personagens bem construídos, não sei se terei ânimo para enfrentar suas continuações, a não ser que o autor acrescente antagonistas fortes e crie conflitos consistentes.

O Andarilho das Sombras – Série Tempos de Sangue – Primeiro Volume

Editora: Draco
Autor: Eduardo Kasse
Gênero: Literatura Fantástica
Formato: 14 cm x 21 cm
Páginas: 400

Capa da coletânea Brinquedos Mortais revelada.

22/03/2012

Brinquedos Mortais nasceu a partir do conto de Saint-Clair Stockler que, mesmo curto, me causou impacto. Enxerguei na mesma hora a possibilidade de ampliar o universo que aquele conto apenas permitia entrever e idealizei essa coletânea. A Editora Draco abraçou a proposta e pusemos, então, mãos a obra. Poderíamos tê-la aberta inteira para submissões, mas nos preocupamos prioritariamente com a qualidade literária e, para evitar longas buscas e exaustivas análises, achamos por bem convidar seis integrantes, certos de que não nos decepcionariam (e, de fato, não nos decepcionaram).

São eles: Ataíde Tartari, Braulio Tavares, Carlos Orsi Martinho, Lúcio Manfredi, Luiz Bras e Roberto de Sousa Causo.

As outras quatro vagas nós as deixamos para a disputa de contendores hábeis. E que vencessem os melhores. Foram muitas as submissões e algumas delas tão boas que nos causaram verdadeira dor deixá-las de fora.

Os quatro selecionados foram:  Brontops Baruq, João Beraldo, Pedro Vieira e Sid castro. Com as narrativas dos organizadores, a coletânea perfaz ao todo doze contos.

Sinopse oficial:

Brinquedos mortais, uma coletânea organizada por Saint-Clair Stockler e Tibor Moricz, reúne 12 autores que apresentam universos díspares e, ao mesmo tempo, convergentes, dialogando com o inusitado, o assustador, o cômico e o repulsivo. Burilam seus textos com cuidado cirúrgico, capricham na prosa para oferecer aos leitores uma excelente literatura de entretenimento.

Bonecos cheios de más intenções, brinquedos ameaçadores, jogos estranhos e perigosos. Narrativas onde a morte é uma constante e onde a vida em todas as suas formas está sempre por um fio.

Ataíde Tartari , Braulio Tavares, Brontops Baruq, Carlos Orsi Martinho, João Marcelo Beraldo, Lucio Manfredi, Nelson de Oliveira, Pedro Vieira, Roberto de Sousa Causo, Saint-Clair Stockler, Sid Castro e Tibor Moricz convidam os leitores a penetrar em mundos ameaçadores e a compartilhar essa fascinante e mortal experiência.

Breve sinopse de cada conto:

• Um FDP blindado (Ataíde Tartari)

Numa releitura de Dorian Gray, o conto narra a cabulosa história de Dagá, um rapaz protegido de todas as terríveis consequências de seus atos por um incrível artefato Hi-Tech.

• HAXAN (Braulio Tavares):

Num futuro próximo, um grupo de garotos se diverte praticando pequenas transgressões, fugindo das milícias armadas, e usando aparelhos de realidade virtual com fins educativos para brincadeiras violentas.

• Astronauta (Brontops Baruq)

“As câmeras de observação de raios-x já foram objetos de uso puramente militar. Hoje qualquer camelô vende uma de brinquedo tão boa quanto as usadas pelo Exército. Com estes binóculos, é possível acompanhar a rotina e os rituais de um estranho casal, que mora no edifício em frente. Dentro de alguns minutos, será chamada a polícia. Não é maldade, é apenas outra brincadeira.”

• Grande Panteão (Carlos Orsi):

Deuses ou brinquedos? No grande panteão, sacerdotes de todas as crenças e divindades preparam seus encantos para o festival, mas nem tudo que parece mágica realmente é: engrenagens, carvão e vapor criam os milagres a que milhares de peregrinos esperam assistir.

• Brinquedo perfeito (João Beraldo)

Explorar o espaço pode ser mais fácil do que lidar com uma adolescente. É o que descobre Thiago, viajante espacial e pai solteiro. Tentando se aproximar da filha, compra em uma de suas viagens o presente perfeito.

• Hipocampo (Lúcio Manfredi)

Um game, um cavalo marinho, labirintos intermináveis e mundos paralelos. Cuidado com suas escolhas. Elas podem mudar drasticamente o mundo à sua volta.

• Daimons (Luiz Bras)

Daimons (antiga palavra grega que significa espíritos) é sobre um grupo de brinquedos inteligentes conspirando contra a hegemonia humana. Os brinquedos querem tomar o poder e pra isso precisam da ajuda das crianças, que eles tentam manipular a seu favor. Nesse conto, os brinquedos agem como consciências más, sussurrando ordens no ouvido das crianças, torturando as mais desobedientes.

• Austenolatria (Pedro Vieira)

Em Austenolatria, o estranho fetiche de um professor de literatura inglesa pelas heroínas da obra de Jane Austen deixa de ser inofensivo quando provoca ciúmes em Elizabeth Bennet e seu seleto círculo de amizades.

• Um herói para Afrodite (Roberto de Sousa Causo)

Tudo começa quando Leandro Vieira adquire, por uma pechincha, uma estatueta, estranhamente erótica, de uma mulher de beleza estonteante. Uma brincadeira revela que a deusa representada na estátua o quer como seu herói. O preço a pagar é, porém, muito alto.

• O homúnculo (Saint-Clair Stockler) 

A mais perfeita engenharia genética. Homúnculos para o deleite, para o prazer de adquirentes perturbados pela rotina. Uma brincadeira que deixa de ser divertida para começar a ser dolorosa.

• O segredo do McGuffin (Sid Castro)

Nos sombrios módulos da mais antiga Estação Espacial do Universo, na gigantesca Central da Galáxia, o detetive Sol Spada enfrenta a sedução de uma sereia laureana, a ameaça de gangsteres alienígenas e a desconfiança de um policial robô de dúbia honestidade, enquanto busca o McGuffin, um artefato dos Primordiais que pode conter… o Segredo do Universo!

• Boneca Dendem, feliz quem a tem (Tibor Moricz)

A ânsia de sentir o plástico e os circuitos internos de seus corpos substituídos por carne e sangue, move um a um os bonecos de uma cidade inteira numa viagem ao passado na busca incansável dessa realização.

***

Fiquem ligados que o lançamento é breve, muito breve… 🙂



Essa menina é do barulho!

21/12/2011

O blog está sem atualização há bastante tempo. Nesse interlúdio fiz algumas leituras (não muitas, já que quando estou trabalhando em um novo romance, eu me afasto delas) que pretendo comentar aos poucos.

Uma delas foi Isidora encontra o herói acorrentado, livreto que recebi graciosamente do autor, Victor Vargas, no último Fantasticon. Chamou-me a atenção o formato, a capa e a gratuidade (risos), mas só fui lê-lo quase dois meses depois (não por falta de vontade. Eu o coloquei no porta-luvas do carro e como quase não acesso esse arquivo, ficou esquecido lá dentro).

Isidora me surpreendeu. Gostei da narrativa, gostei da proposta e gostei da personagem. Victor Vargas demonstrou um interessante talento e surge como uma boa promessa no cenário de literatura fantástica brasileiro.

Trata-se de uma menina terrível. Tão terrível que todos a temem e a respeitam, até a própria família. Demonstra uma personalidade marcante que equilibra bem o “ser criança” com o “ser terrível”, construindo uma menina que bem poderíamos encontrar em qualquer esquina, com a diferença que habita uma realidade fantástica permeada de monstros, bruxas, magos e outros seres mirabolantes.

Ela nos atrai e nos repele. Tive vontade de colocá-la no colo e cobri-la de carinhos, assim com cobri-la também de tapas na bunda. Como toda criança arteira cujo sorriso nos amolece.

O livreto tem ilustrações de Vagner Vargas (capista amado e odiado da Devir) e é um prefácio a uma obra maior que, me pergunto, sairá quando?

Quem não leu, perdeu.

Quarta Capa:

Isidora mora em uma mansão situada à beira de um penhasco, onde se diverte aterrorizando monstros. Sua família incomum a trata com carinho e cuidado, pois Isidora não é uma criança com quem se deva brincar. Até que um dia seu avô, um herói já idoso que conquistou fama e glória na juventude, parte para uma última aventura recheada de altos riscos e encoberta em mistérios. Chega a hora de Isidora deixar para trás sua infância e partir em auxílio do avô. Ela parte para salvá-lo e agora o resto do mundo corre perigo.

Só a antropofagia nos unirá?

14/12/2011

Braulio Tavares está lançando uma coletânea de FC chamada Páginas do Futuro pela editora Casa da Palavra (Leiam matéria em O Globo, aqui) e responde a uma entrevista onde declara que a literatura fantástica brasileira precisa de um movimento antropofágico que a faça cortar o cordão umbilical que a prende às referências anglo-saxônicas.

Tal proposta já havia sido feita há alguns anos por Ivan Carlos Regina e, ao que parece, ainda não foi colocada em prática (com digníssimas exceções).

Vocês, meus queridos leitores, acreditam que esse rompimento com as referências externas e um mergulho no caudal de matéria bruta que nossa geografia, história e mitologia oferecem é absolutamente obrigatório? Podemos sobreviver sem isso? A literatura de Ficção Científica e Fantasia brasileira se tornaria mais rica, mais exuberante ou mais inteligente se explorasse cenários e personagens tipicamente brasileiros?

Ou boa literatura independe de cenário e ambientação e tudo isso é uma condenável xenofobia?

Diga o que pensam, exponham suas opiniões.

***

Minha opinião:

Uma boa história independe de território. Se o cenário são as matas amazônicas, ou as estepes turcas, ou o deserto de Nevada, pouco ou nenhuma importância tem. O argumento está acima de localização geográfica ou cultural. Ninguém está obrigado a escrever suas histórias se utilizando obrigatoriamente de cenários brasileiros, de personagens brasileiros. Também não acho que todas as histórias precisam ser ambientadas fora de nosso país. O argumento é que define isso. Sempre o argumento.


Adorável noite de Adriano Siqueira – lido e comentado

19/09/2011

Adriano Siqueira em pessoa me presenteou com o seu livro, no dia do lançamento de Crônicas de Atlântida de Antonio Luiz M. C. Costa. Prometi-lhe que leria o livro e faria uma resenha no É só outro blogue o que acabou acontecendo só recentemente devido ao volume de leituras profissionais (mas não só) que tenho tido.

Bem, desde então venho me perguntando se devo fazer uma resenha honesta, ou não. Adriano Siqueira é um vampiro notório e, embora bonachão, tem dentes que impõe respeito.

Pensei: “Às favas os dias futuros. Vou dizer o que precisa ser dito, doa a quem doer”.

E foi assim. Peguei o livro numa noite de borrasca, ventos terríveis balançavam as cortinas, relâmpagos cortavam os céus. Abri a primeira página e, após um estrondo ensurdecedor, as luzes se apagaram. Liguei uma lâmpada de emergência, fechei as janelas com pressa e me encolhi num canto do quarto, olhos pregados nos pequenos e inúmeros contos que recheiam o livro.

Li tudo em poucas horas.

Trata-se de uma antologia que chama a atenção pela quantidade infindável de contos. Alguns bem curtos. Todos eles com a marca inconfundível de Adriano Siqueira. Existem vários que estão longe de ser bons, existem muitos que não são bons nem ruins e alguns que se destacam. Um deles publicarei ainda essa semana neste blog.

Apesar disso, gostei muito do livro. Há nele uma carga enorme de despretensão e é justamente essa a sua principal qualidade. Adriano Siqueira é uma figura carismática, amiga. Essas virtudes estão no livro. Ele transpôs para o papel muito do que ele é. E isso nos obriga a uma leitura descompromissada. Como leitor atento e desarmado, recomendo a sua leitura.

Se você conhece Adriano Siqueira, identificará de imediato uma extensão dele em Adorável noite. Se não o conhece, procure-o pelos becos. Tenho certeza de que vai gostar conhecê-lo. Saído de uma das obras de Stephenie Meyer, um dentuço que brilha, e não só durante o dia.

Se estiver interessado no livro, você encontra ele aqui.

Contos de fadas para adultos?

02/08/2011

Contos de fadas narrados de forma original e adulta são a aposta do mercado editorial

Em sintonia com o crescimento da literatura de fantasia no mundo e com os muitos eventos relacionados ao assunto no País, as editoras iniciam a publicação de literatura com um público-alvo que vem sendo esquecido: o adulto. Na ponta dessa tendência, a Tarja Editorial lança o livro Reino das Névoas – contos de fadas para adultos, da escritora paulistana Camila Fernandes, uma das autoras da coleção Necrópole e participante de várias antologias, como a recente A Fantástica Literatura Queer.

Ganhadora de uma bolsa oferecida pelo ProAC – Programa de Ação Cultural da Secretaria de Estado da Cultura, a obra traz 7 histórias no estilo dos contos de fadas em sua forma original: violenta, quando necessário; bela, quando possível; picante, quando ideal.

O livro, de visual ousado, contém ilustrações da própria autora abrindo cada um dos contos do livro, com novas histórias que brincam com elementos clássicos: príncipes e princesas, feiticeiras, maldições, bosques misteriosos, feras falantes. Trata-se de um livro de contos de fadas que não se autocensuram e, ao mesmo tempo, têm o sabor da moderna ficção fantástica.

A apresentação, do escritor Richard Diegues, dá uma noção da obra: “Gosto de contos de fadas. Todos gostam. São histórias que ouvimos de pessoas queridas, desde tenra infância, com finais felizes, sempre nos transmitindo uma moral que devemos aprender e conservar para os futuros adultos em que nos tornaremos. (…) Crescemos com eles em nossa memória. E, então, chegamos à vida adulta e aprendemos que nem tudo neles é realmente factível na vida real. Enfim, começamos a nos perguntar: o que foi escondido pelos escritores que, ao longo dos tempos, foram adaptando, lapidando e moldando essas lendas para torná-las palatáveis? O que nossos pais esconderam sutilmente de nós enquanto os liam na cabeceira de nossas camas? Agora que somos adultos, procuramos por essas respostas. E aqui, neste livro, elas estão em cada linha (…).”

As ilustrações são um diferencial. “Sempre adorei livros ilustrados. Quero oferecer ao leitor o tipo de obra que eu mesma procuro”, explica a autora. Ela ainda destaca o fio condutor do livro: “o despertar para o mundo adulto e para o autoconhecimento, na forma dos vários perigos que os personagens têm de enfrentar para passar de um estágio a outro na vida. Minha proposta é usar a fantasia para falar da realidade”.

Reino das Névoas é uma ótima pedida para relaxar os olhos e a mente, desviando-se um pouco dessa neblina do politicamente correto que vem encobrindo a literatura nacional nos últimos anos.


Pedro Moreno

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